Doença sorrateira
Postada em: 09/07/2007
Fonte: Zero Hora - RS 03/05/2007

Apesar da sua alta incidência no Brasil e no mundo, a hipertensão, ou a popular pressão alta, é uma enfermidade silenciosa. Só a metade dos 45 milhões de hipertensos no país sabe que tem a doença. Como não apresenta sintomas, a patologia se agrava sorrateiramente nos demais hipertensos. Além disso, entre aqueles que foram diagnosticados, apenas a metade se cuida.

- É muito comum um paciente chegar ao consultório e dizer "A minha pressão normal é alta". Não existe pressão normal alta - alerta Antonio Carlos Palandri Chagas, professor da USP e presidente eleito da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Negligenciar a hipertensão pode ter efeitos graves. A vendedora Sônia Conceição Bento da Silveira, 46 anos, aprendeu isso da pior forma. Desde os 16 anos, Sônia sabia que tinha pressão alta. Começou a tomar remédio ainda adolescente, mas não levou muito a sério as recomendações de controlar o sal e praticar exercícios. Engordou além do permitido e, em junho do ano passado, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). Ficou com um lado do corpo paralisado, o que a obrigou a pedir licença do trabalho e andar com ajuda de uma muleta. Dessa vez, teve de banir o sal e controlar a pressão arterial à base de 35 comprimidos diários. A mudança radical de vida deixou a porto-alegrense deprimida.

- Sempre achei que hipertensão era algo normal e só dava problemas sérios em velhos. Quando percebi, era tarde demais - lamenta.

Pesquisas feitas no Hospital de Clínicas de Porto Alegre constataram que a pressão alta é culpada por 65% dos AVCs e 50% dos infartos.

- A hipertensão é tão determinante que pode ser considerada, em muitos casos, uma causa e não apenas um fator de risco - detalha Flávio Fuchs, chefe do Serviço de Cardiologia do hospital e um dos líderes do estudo sobre hipertensão.

Infelizmente, apenas uma minoria sabe disso. Um levantamento feito pelo Instituto Datafolha, divulgado ontem, dia mundial de combate à doença, mostrou que apenas 18% das pessoas têm noção de que a pressão alta aumenta o risco de infarto e AVC. Menos da metade dos 2,1 mil entrevistados soube dizer que a pressão arterial normal é inferior a 14 por 9.

A desinformação por parte dos pacientes e a falta de controle da pressão arterial não é exclusividade do Brasil. Na semana passada, um relatório do Parlamento Europeu concedeu caráter de epidemia à doença que, ao lado da obesidade e do diabetes, está sendo considerada a vilã das mortes prematuras. E fez uma previsão assombrosa: até 2025, o número de hipertensos deve crescer em 60%, atingindo mais de 1,56 bilhão de pessoas no mundo. Em países em desenvolvimento, especialmente o Brasil, China, Índia, Rússia e Turquia, as taxas podem crescer 80% dentro de duas décadas, informou o relatório.

Apesar da expectativa desoladora, especialistas estão convencidos de que a conscientização sobre os perigos da doença pode reverter as estatísticas. De acordo o professor de cardiologia da USP Otávio Gedara, a maioria dos hipertensos não é considerada grave. Além disso, há dezenas de remédios eficazes para controlar a pressão arterial. Os mais clássicos são os diuréticos, que ajudam os rins a eliminar o excesso de líquidos no organismo - a retenção de água pelo sal eleva a pressão do sangue nas artérias, obrigando o coração a bombeá-lo com mais força.

- É como um encanamento que recebe muita pressão todo o tempo. Um dia, ele estoura - explica o médico.



Retornar à Área de Notícias