Nem toda dor no ombro é bursite
Postada em: 03/10/2007
Fonte: O Estado do Paraná - PR 19/09/2007

Dor. Essa é a reclamação mais comum de pacientes com problemas no ombro. Para os leigos, o motivo de dor no ombro é chamado de “bursite”, o mesmo mal que acometeu o presidente Lula em 2003 e que acabou se tornando ainda mais popular. Ao contrário, qualquer pessoa pode sofrer do distúrbio. Seja um atleta, arremessando peso ou até mesmo uma dona-de-casa colocando a roupa no varal. Basta que uma estrutura que existe no ombro, formada por tendões e músculos, conhecida por manguito rotador, sofra movimentos repetitivos ou vigorosos ou, ainda, um aumento súbito de atividade, caso dos atletas de fim de semana.

Segundo Eduardo Carrera, chefe do Grupo de Ombro do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo, a denominação “bursite”, na verdade, é a generalização que engloba várias patologias. O médico explica que uma delas é a tendinite calcária, uma calcificação que atinge um ou mais tendões do ombro. “Também é comum a capsulite adesiva, ou ombro congelado, que é a rigidez da articulação”, atesta.

O conjunto de tendões (ou músculos) do ombro trabalha junto com o músculo deltóide, nos movimentos, para cima, para trás e para os lados. Quando há algum desarranjo entre esse complexo muscular, seja por desequilíbrio das forças de ação desses músculos, seja por processo degenerativo do manguito rotador, pode ocorrer um desgaste desse tendão. “Essas alterações podem gerar dor e limitar os movimentos do braço, o que caracteriza na maioria das vezes a chamada síndrome do impacto”, esclarece.

Esforço repetitivo

Segundo Sebastião Radominski, professor de Reumatologia da UFPR, se o impacto acontecer por causa de um esforço específico, como carregar um peso demasiado, a bolsa pode inflamar, mas melhora com o devido repouso. No entanto, se a inflamação decorrer de um esforço repetitivo, a situação pode agravar-se, provocar uma tendinite e tornar-se crônica, alerta o especialista.

Outras causas, segundo o médico, podem advir de doenças inflamatórias, como artrite reumatóide ou gota, doença relacionada com alterações no ácido úrico. A indicação do tratamento varia de acordo com a intensidade do distúrbio e consiste no uso de antiinflamatórios, fisioterapia e, em último caso, a cirurgia. Além disso, a acupuntura pode ser adotada para reduzir a dor. Como os movimentos ficam prejudicados, a imobilização do ombro não é recomendada. Os reumatologistas advertem que esses distúrbios devem ser levados a sério, pois, além das dores terríveis, podem se tornar crônicos e prejudicar a amplitude normal dos movimentos na região, ocasionando limitações para o trabalho.

Conforme os especialistas, o mais importante é se determinar qual é o verdadeiro problema. Se uma inflamação no tendão, uma calcificação, ou ainda uma variedade de possibilidades que também geram problemas no ombro é que está gerando dor. Quando os casos se tornam mais graves, salienta Radominski, é necessária uma infiltração nos tendões. “No rompimento parcial, a fisioterapia corrige o problema, mas quando o ligamento se romper totalmente, somente uma cirurgia para remover o processo inflamatório”, adverte. Assim, a bursite em si pode não ser o maior problema, pois a bolsa pode se regenerar sozinha, mas o tendão não, por isso a preocupação com o precoce diagnóstico do problema.

Para fugir das dores

Faça exercícios de alongamento.

Use um travesseiro fino ou durma sem travesseiro.

No trabalho, prefira uma cadeira ajustável e com apoio nas costas.

Faça intervalos de 15 minutos a cada 2 horas de trabalho, principalmente se permanecer muito tempo ao computador.

Alongue pescoço, ombros e região lombar a cada 2 horas.

Movimento contínuo

Após os 40 anos de idade, as pessoas podem ter esse problema, em algum momento da vida, pois é fisiológico, natural e muito comum na terceira idade, em conseqüência do envelhecimento biológico. Algumas pessoas suportam e convivem bem com o problema e outras não. "Cerca de 90% das pessoas que chegam ao consultório queixando-se de dor no ombro têm a chamada síndrome do impacto", declara Eduardo Carrera.

Há uma relação muito estreita entre a atividade física de uma pessoa e a aceleração do processo degenerativo. Os atletas que utilizam os braços para lançamento, como tenistas, golfistas, jogadores de vôlei e nadadores, têm uma tendência maior a desenvolver lesões inflamatórias no tendão, por conta do movimento contínuo de elevar o braço. Também ocorre a mesma coisa com pessoas que trabalham com os braços elevados acima da cabeça, como professores que dão aula escrevendo na lousa, carregadores e empregadas domésticas.

Todas essas pessoas têm uma tendência para desenvolver processos inflamatórios nessa região, porque expõem o tendão a situações de estresse, além de uma característica própria do tendão que é a pouca vascularização, fato que o predispõe a esses tipos de lesão. "Se o ombro é exposto a uma situação de constante elevação, ele pode ficar 'mais velho' mais rápido. Mas isso não significa que quem poupa atividade física para os ombros não terá lesões no futuro", completa o especialista.



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