Remédios que podem levar à surdez
Postada em: 13/09/2007
Fonte: O Dia - RJ 16/07/2007

Quem vive fazendo ouvidos de mercador para os riscos da automedicação corre o risco de acabar totalmente surdo. O uso prolongado, em altas doses e sem prescrição médica, de quase 60 remédios — entre analgésicos, antibióticos e diuréticos — pode provocar tonteira, zumbido e até surdez. Segundo especialistas, as substâncias conhecidas como ototóxicas causam lesões graves e, muitas vezes, irreversíveis à cóclea e ao vestíbulo, as partes do ouvido humano responsáveis pela audição e pelo equilíbrio, respectivamente.

“A principal recomendação é a de não fazer uso indiscriminado de medicamentos. Infelizmente, o brasileiro está acostumado a tomar remédios como e quando bem quer. E, o pior, sem receituário médico. É sempre um parente ou um vizinho que recomenda. O uso de antibióticos, por exemplo, deve ficar restrito às infecções mais graves”, afirma a otorrino Andréa Pires de Mello, do Comitê de Doenças Ocupacionais da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia (SBORL).

DANOS IRREVERSÍVEIS

O ácido acetilsalicílico, provavelmente o analgésico mais difundido do mundo, é também um dos mais famosos remédios ototóxicos. No caso dele, porém, o risco de perda auditiva é reversível e, na maioria das vezes, os indesejáveis efeitos colaterais costumam sumir após 72 horas de suspensão do produto. O mesmo já não acontece com os antibióticos da família dos aminoglicosídeos, utilizados na prevenção e no tratamento de infecções pós-operatórias, que podem trazer danos irreversíveis.

“Muitos bebês prematuros estão sujeitos ao uso de antibióticos para combater determinadas infecções respiratórias. Nestes casos, nem sempre é possível substituir um medicamento pelo outro. Apesar de a otoxicidade requerer uma certa predisposição genética, sugiro que os pais façam exames audiométricos antes, durante e depois do tratamento para avaliar se a substância provocou alguma lesão ao bebê”, pondera Sandra Merry, presidente da Sociedade de Otorrinolaringologia do Rio de Janeiro (SORL-RJ).

E foi exatamente isso o que fez a dona-de-casa Alícia Yanci, 41 anos, ao sair da maternidade com os gêmeos Harry e Eduardo. Prematuros de sete meses, os dois irmãos tiveram que passar alguns dias na incubadora antes de ir para casa. Dias depois, ao receber o resultado do exame audiométrico, Alícia quase caiu para trás.

“O Eduardo não tinha problema nenhum, mas o Harry já apresentava surdez profunda nos dois ouvidos. Será que o médico não poderia ter receitado outro remédio?", indaga a mãe até hoje.

A partir dos cinco meses, Harry começou a recuperar parte da audição. Mas a melhora, lamenta a mãe, foi apenas parcial. Hoje, com cinco anos e uma surdez moderada, o menino leva uma vida próxima do normal. Como qualquer criança de sua idade, ele gosta de assistir futebol pela TV e de jogar videogame com os irmãos.

“Aconselho a quem sinta zumbido, tonteira ou perda de equilíbrio procurar um especialista o mais depressa possível para tentar detectar o problema. A perda auditiva pode ser motivada por um trauma acústico, mas pode ser conseqüência de um remédio ototóxico”, pondera a fonoaudióloga Isabela Pereira Gomes, do Centro Auditivo Telex.

Ameaça de produtos tóxicos

Certos produtos químicos, como solventes, vernizes e lubrificantes, podem ser tão prejudiciais ao ouvido humano quanto as substâncias ototóxicas presentes em alguns medicamentos. Como o risco é inalatório, otorrinos sugerem que certas atividades profissionais, como as realizadas nas indústrias metalúrgica e petroquímica, sejam feitas com máscaras.

“Na maioria dos casos, esse tipo de lesão é passível de prevenção. É o que a medicina de trabalho chama de ‘doenças desnecessárias’. É preciso que haja um controle maior por parte das empresas no que diz respeito à utilização de equipamentos de segurança pelos funcionários”, alerta a otorrino Patrícia Ciminelli.

O mecânico de máquinas Weber de Oliveira, 53 anos, só começou a desconfiar de que algo não estava bem quando teve uma crise de tontura tão forte que caiu na rua em 2003. Funcionário de uma estação de tratamento de água desde 1989, fazia uso diário de um solvente adesivo para pequenos reparos em tubos de PVC. De licença médica desde 2003, Weber se viu obrigado a voltar ao trabalho no início do ano. “Nunca imaginei que aqueles produtos químicos pudessem fazer tanto mal à saúde”, lamenta Weber.



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