Desinformação dos médicos adia diagnóstico da artrite reumatóide
Postada em: 09/08/2007
Fonte: Correio da Bahia - BA 28/05/2007

No início, as dores se iniciam nos membros superiores, notadamente, na região dos punhos e os dedos das mãos.

A doença avança para grandes articulações, como joelhos, e pode afetar o sistema respiratório, cardíaco e nervoso. O resultado é total incapacidade ou até mesmo a morte.

Trata-se de artrite reumatóide (AR), que especialistas estimam que atinja mais de um milhão de brasileiros.

Os reumatologistas reclamam da falta de informação dos médicos clínicos gerais que acaba por adiar o diagnóstico, e assim dificulta o tratamento da patologia, que não tem cura.

A medicina ainda não conseguiu identificar, completamente, a causa desta doença. Poucos genes são conhecidos e sabe-se apenas que existe uma predisposição genética para desenvolvê-la. O perfil mais comum dos doentes são mulheres entre 30 e 50 anos de idade a relação de três ocorrências de pacientes femininos para um masculino.

Mas não são raros da casos da patologia em crianças e idosos. A pessoa pode desenvolver a artrite reumatóide depois de um trauma psicológico ou físico que debilita seu sistema imunológico, informa a chefe do serviço de reumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC/UFPE), Ângela Duarte.

A médica afirma que a AR tem a característica de ser auto-imune, isto é, o sistema imunológico da vítima ataca o próprio corpo, em vez de defendê-lo. Pessoas de famílias que tenham histórico clínico de artrites ou outros males auto-imunes possuem mais probabilidade de desenvolver a doença.

De acordo com informações da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), a doença se diferencia das outras formas de artrite pela forma de como ela afeta as articulações. Enquanto a AR afeta os punhos e muitas articulações das mãos, a osteoartrite (ou osteoartrose ou artrose), uma outra forma de artrite que é mais comum que a AR, envolve mais freqüentemente as articulações que estão mais perto das unhas das mãos.

Dores, inchaços, sensação de calor nas pequenas articulações, nos dois lados dos corpos, em especial as dos membros superiores são os primeiros sintomas da patologia. À medida que a doença progride, as articulações vão se deteriorando, o que gera total incapacidade no doente; cotovelos, ombros, quadris, joelhos.

Outro sinal da doença é rigidez matinal, que neste caso específico, tem que ser constante e durar mais de uma hora, explica Duarte. Manifestações clínicas extra-aticulares também desencadeadas pela AR, a exemplo da inflamação das glândulas que produzem as lágrimas nos olhos, que ficam irritados e com sensação de estarem com areia. Por outro lado, a inflamação articular ocasiona o desuso dos músculos, os quais podem ficar hipotrofiados diminuídos em sua vitalidade com perda de resistência específica.

É uma doença grave que tem uma morbidade muito grande, ou seja, de maneira progressiva ela pode incapacitar rapidamente o paciente e pode ser letal se comprometer outros órgãos com o pulmão e o sistema cardíaco, declara a reumatologista Ângela Duarte.

Para diagnosticar a AR, o médico colhe um histórico médico e realiza exames físicos. A SBR informa que o profissional procura por características da AR, incluindo inchaços, calor e limitação dos movimentos das articulações ao longo do corpo, e também caroços debaixo da pele.

Exames de sangue e radiológicos também são providenciados. A presença de um anticorpo na corrente sangüínea chamado fator reumatóide pode indicar a doença. Na hipótese deste não ser encontrado pode se proceder outro exame para detectar o fator ANTI-CCP, que pode indicar a patologia, diz Duarte.

Sem cura, a artrite reumatóide pode ser controlada, ou até mesmo remitida diminuir sua intensidade.

O grande problema é que os médicos clínicos gerais que dão o primeiro atendimento não estão capacitados a identificar os sinais da AR e encaminhar os pacientes aos especialistas, afirma o chefe do serviço de reumatologista do Hospital Geral de Fortaleza, Walber Pinto Vieira.

Ele explica que sem o diagnóstico precoce, perde-se a oportunidade de evitar erosões nas articulações. Na minha opinião é preciso uma política pública do governo para esta doença e uma maior atenção das faculdades de medicina na formação dos médicos para que eles possam reconhecer melhor os sintomas da artrite reumatóide, declara o reumatologista Walber Vieira.

Segundo ele, estimativas oficiais dão conta que 0,5% a 1% da população brasileira sofre com a patologia. Mais de um milhão brasileiros são portadores da artrite reumatóide, o que significa que não se trata de uma doença rara. Antiinflamatórios tratam a doença

O tratamento da AR baseia-se no uso de antiinflamatórios e corticóides para aliviar as dores. Para reverter o quadro de evolução da AR lança-se à mão, em primeiro lugar, das chamadas drogas anti-reumáticas modificadoras da doença (Dmards). O medicamento mais comum deste grupo é o metotrexato. Não se pode fazer uso de bebidas alcoólicas durante este tratamento, sob pena de estimular danos ao fígado.

No caso de não haver resposta do organismo a este tratamento, os reumatologistas fazem uso de agentes biológicos que são chamados de Anti-NFT, pois bloqueiam o fator necrose tumoral, substância que exerce importante papel nos danos aos tecidos das articulados provocados pela AR. Existem três tipos de Anti-NFT, mas para usá-los é preciso ter bastante cuidado.

O paciente precisa fazer um check-up para que se evite que ele desenvolva tuberculose, que este medicamento pode causar, explica Viera.

Na hipótese de um dos Anti-NFT também não apresentar resultado, o médico pode indicar outro tipo de droga como o Rituximabe, que é um medicamento recém-autorizado pelo Ministério da Saúde para ser utilizado no tratamento da AR.

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