As novas tecnologias que podem salvar seu coração
Postada em: 15/05/2010
Fonte: ISTO É

Revolução na cardiologia: Sérgio Almeida de Oliveira, um dos maiores cirurgiões do Brasil, fala sobre as novas tecnologias para o coração.

Robôs e células-tronco para o coração: Sérgio Almeida de Oliveira, um dos maiores cirurgiões do Brasil, fala sobre os recursos mais modernos na cardiologia, que contribuem para a recuperação mais rápida dos pacientes.

PRECISÃO
Equipe do Albert Einstein conduz uma das primeiras cirurgias cardíacas feitas com robô na América Latina.

Há uma revolução em andamento na cardiologia. Em sua base está um arsenal de técnicas que combinam cortes menores, novos dispositivos para acessar o coração, exames mais precisos, robôs e a aproximação entre médicos com especialidades diferentes para operar o mesmo paciente. A meta é tratar os problemas cardíacos com o mínimo de agressividade e o máximo de eficiência. Um exemplo das inovações foi visto na semana passada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Pela primeira vez na América Latina, o cirurgião Robinson Poffo usou um robô para reconstruir a válvula mitral de cinco pacientes. “O aparelho permite operar com cortes menores e dá amplitude de movimentos no campo operatório maior do que a mão do cirurgião”, diz. No Instituto do Coração, em São Paulo, intervenções na válvula mitral já estão sendo executadas por meio das chamadas cirurgias minimamente invasivas. O cirurgião faz três ou quatro cortes com cerca de quatro a seis centímetros e, com o auxílio de câmeras e vídeos, concretiza o reparo. Pelo método convencional, a operação é realizada através de um corte no centro do peito e a fratura do osso esterno.

DELICADEZA
Tatiane operou a válvula através de um corte no mamilo. Ficou quase sem marcas

“Já fizemos 35 operações desse tipo. Nosso plano é realizar uma por semana”, diz o cardiologista Noedir Stolf, diretor da Unidade de Cirurgia da instituição. “Entre as vantagens da nova modalidade está a redução da dor e do tempo de permanência no hospital”, diz o cirurgião Fábio Jatene. Em vez de dois ou três dias na UTI, por exemplo, o paciente fica um. A manicure Rosângela Barbosa, 28 anos, de São Paulo, é uma das pessoas operadas no InCor. “Voltei a ter disposição para trabalhar e cuidar de meus filhos”, diz. Há um ano, a analista de recursos humanos Tatiane Marcelo, 29 anos, de Joinville, foi submetida a uma variação dessa cirurgia desenvolvida por Robinson Poffo, cuja incisão é feita logo abaixo do mamilo. “Quase não dá para ver a cicatriz”, conta Tatiane. A combinação de novos recursos com a hemodinânica está contribuindo para intervenções menos agressivas na válvula aórtica. Uma delas é a implantação de uma prótese que pode ser colocada via cateter, sem cortes no tórax. Feita de um metal que se dilata em contato com o calor e revestida de uma membrana animal, ela funciona como um expansor.

RETORNO
Pequenas incisões garantiram uma boa recuperação à Rosângela

“Não substitui a válvula, mas melhora bastante a condição de vida dos pacientes”, diz o hemodinamicista Pedro Lemos, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Um outro dispositivo recente está dando resultados interessantes. É uma espécie de clipe, colocado via cateter, para corrigir a frouxidão da válvula mitral (responsável por evitar que o sangue volte durante a contração cardíaca). Quando isso acontece, ela permite o retorno do sangue que deveria ser bombeado. Conclusões de um estudo feito com 279 pacientes no Canadá e nos EUA indicam que o clipe pode ser uma opção eficaz. “Até agora, a cirurgia de coração aberto era a única alternativa para esses casos”, disse à ISTOÉ Ziyad Hijazi, coordenador do estudo. “Em vez disso, agora podemos usar um cateter para alcançar a válvula do coração. Já temos 600 casos com excelentes resultados.” O cateter também está sendo a via de execução de uma técnica recente para destruir trombos associados a infartos. No Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, pacientes foram submetidos à aspiração de coágulo dentro da artéria. “Por causa do grande volume, eles poderiam se fragmentar se a artéria fosse apenas dilatada com um balão. Por isso, fizemos a aspiração”, explica o hemodinamicista Constantino Salgado.

EXPANSÃO
Stolf planeja aumentar operações menos invasivas no InCor

Outra mudança importante é fazer as cirurgias de revascularização das coronárias, as principais artérias do coração, sem usar a máquina de circulação extracorpórea. Essa cirurgia consiste na utilização de enxertos que passam por cima dos pontos obstruídos das coronárias. O objetivo é levar o sangue de um ponto sem comprometimento para outro, criando um circuito alternativo. Normalmente, é preciso parar o coração e usar a máquina, que faz o bombeamento do sangue. Mas a criação de aparelhos que param o coração no pedacinho a ser tratado, sem mexer com o resto, tornou possível realizar o procedimento sem recorrer à máquina. “O coração fica batendo, mas a artéria que vai ser tratada fica parada”, diz o médico Sérgio Almeida de Oliveira, um dos maiores cirurgiões cardíacos do País. Ele opera nos hospitais Beneficência Portuguesa, Sírio-Libanês e Albert Einstein. A sofisticação dos procedimentos tem funcionado como incentivo para a aproximação entre os cirurgiões e os cardiologistas intervencionistas, aqueles que fazem o cateterismo – inserção de um tubo no vaso sanguíneo para diagnóstico ou pequena intervenção cirúrgica – e a angiografia, exame que mostra os pontos de entupimento das artérias. Ambos estão associando suas expertises para tratar o paciente ao mesmo tempo. Na prática, significa que um pode operar uma das artérias, enquanto o outro introduz, em outra artéria, via cateter, um balão para abrila e melhorar a passagem do sangue. Como exigem equipamentos diferentes, até agora esses procedimentos eram feitos em salas distintas. Mas isso está mudando. “O caminho é criar as salas híbridas, onde os aparelhos estão no mesmo lugar”, prevê Oliveira.

SEM PARAR
Almeida faz operações nas quais o coração continua batendo

Uma dessas salas já funciona no Hospital Albert Einstein. O InCor deve inaugurar a sua em junho. O espaço permite a realização de cirurgias convencionais, operações pouco invasivas e diagnósticos por imagem no mesmo local, sem que o doente precise ser transportado. “Além disso, torna a tomada de decisões mais segura e rápida”, diz o cirurgião Stolf. De fato, diante de tantas alternativas, é importante saber qual escolher. “Não vale a pena, por exemplo, optar por técnicas que usam mini acessos ou são menos agressivas se a cirurgia aberta tiver melhor resultado para determinado paciente”, pondera o cardiologista Roberto Kalil Filho, diretor do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês. “O certo é discutir o que fazer em termos de risco, eficiência e durabilidade.”


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