Conheça mais sobre a síndrome do pânico
Postada em: 05/09/2008
Fonte: O Estado do Paraná - PR 24/04/2008

Luísa tem 21 anos de idade. Há cerca de seis anos teve a primeira crise de ansiedade e pânico generalizado. O coração começou a bater muito depressa e ela passou a sentir falta de ar. Teve que ser levada às pressas para um hospital. A estudante já recebeu alta, mas perdeu a autoconfiança, só quer ficar em casa, com medo de que a crise volte a se repetir. No caso de Luísa, o diagnóstico foi síndrome do pânico.

Nessas crises, a pessoa sente falta de ar, o coração dispara e o suor pode empapar a roupa. Em questão de segundos, surgem uma série de sintomas: boca seca, tremores, taquicardia, falta de ar, mal-estar na barriga ou no peito, sufocamento, tonturas. Esses detalhes estão sempre presentes na memória de quem sofre dessa síndrome, também chamada de transtorno do pânico. “O distúrbio é uma das formas de manifestação da ansiedade patológica, uma das mais limitantes para a vida do paciente”, explica a psicóloga Adriana de Araújo, especializada no tratamento de fobias. Conforme a terapeuta, tais sintomas são muito intensos, acima do que poderia ser considerada a manifestação do grau mais alto de ansiedade.

Muitas pessoas acometidas pela síndrome, buscam atendimento alegando sintomas comuns ao de um infarto. No Brasil, não existem dados definitivos, mas acredita-se que essas crises atingem de 2% a 2,5% da população. Apesar da alta incidência, a doença só foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na década passada. Antes, os sintomas muitas vezes eram associados a outras doenças e o paciente passava por muitos médicos antes de conseguir o tratamento adequado.

Sobressaltos constantes

“Quem sofre com o mal vive em constante sobressalto, pois não sabe se as crises vão se manifestar novamente dali a minutos, horas, dias ou meses, o que gera intranqüilidade e insegurança”, avalia a psicóloga. É muito freqüente que as crises sejam acompanhadas pela sensação de que algo trágico, como a morte súbita ou o enlouquecimento estão por acontecer, o que traz tamanha insegurança que a qualidade de vida do paciente fica seriamente comprometida.

O psiquiatra Osmar Ratzke, da Sociedade Paranaense de Psiquiatria, comenta que o primeiro ataque de pânico costuma acontecer em adultos jovens, entre 25 e 40 anos. Assim como em outras doenças psiquiátricas, como depressão, são as mulheres as mais atingidas pela doença. A proporção é de dois casos entre mulheres para um entre os homens. “A crise de pânico inicial se dá geralmente quando as pessoas se encontram em um elevado nível de estresse, devido, por exemplo, ao excesso de trabalho ou mesmo à perda do emprego”, observa o médico.

As crises também podem ocorrer após um acidente, cirurgia ou doença grave, além do uso de cocaína ou outras drogas e medicamentos estimulantes. Para o especialista, o grande problema é quando os episódios de pânico se sucedem. “Muitas pessoas nessas circunstâncias acabam por se confinar no ambiente familiar, evitando sair e perdendo assim todo o contato com o mundo real”, observa Ratzke, salientando que a cura dificilmente se dá de forma espontânea.

Origem multifatorial

Adriana de Araújo concorda que um único episódio de crise de ansiedade aguda não configura a doença da síndrome do pânico. De acordo com a especialista, qualquer pessoa pode ter uma crise, sem desenvolver a doença. “A repetição dessa crise é que configura a doença em si e merece o devido tratamento”, constata. Assim, quanto mais preciso o diagnóstico e mais precoce o início do tratamento, maiores as chances de reversão do quadro. “Muitas vezes, o paciente não aceita de imediato o diagnóstico de síndrome, não acreditando que tantos sintomas físicos (ver box) sejam provenientes de questões emocionais”, resume a psicóloga.

As razões que levam ao transtorno permanecem desconhecidas. A genética pode ter um papel importante, bem como influências ambientais, entre elas, a educação e circunstâncias de vida. De acordo com sua experiência clínica, a psicóloga aponta como uma soma de três fatores a origem do problema. Para ela, o transtorno tem sua origem multifatorial, ou seja, envolve a participação de fatores genéticos, do momento de vida do indivíduo e do nível de estresse a que se está submetido.

O transtorno ocorre de forma diferenciada. Há graus leve, moderado e grave, de acordo com a intensidade dos sintomas. Os casos mais leves, muitas vezes, se apresentam clinicamente como ataques de pânico com poucos e limitados sintomas. Já, os ataques mais graves têm duração maior, são mais freqüentes, apresentam um maior número de sintomas e têm maior intensidade. Todos esses aspectos serão considerados cuidadosamente na hora de determinar a melhor abordagem terapêutica.

Tratamentos complementares

Como na maioria dos transtornos psiquiátricos, tanto os medicamentos quanto a psicoterapia são utilizados de forma complementar, mas não está descartado o uso isolado de uma delas.

Assim, se uma pessoa tem apenas ataques de pânico, sem outro distúrbio associado, ela pode se beneficiar de uma medicação ou de algumas técnicas de terapia comportamental cognitiva. Quando pânico e fobia estão presentes, o tratamento combinado pode ser a melhor escolha.

O tratamento deve ser mantido por seis meses no mínimo. A melhora costuma ocorrer entre duas e quatro semanas, mas as alterações biológicas podem demorara meses para desaparecer. Desse modo, se o tratamento for interrompido nos primeiros sinais de melhora, 80% dos pacientes vão sofrer recidiva em quatro a seis semanas.

Os especialistas recomendam o tratamento medicamentoso para combater as crises, visando, numa primeira fase, o restabelecimento do equilíbrio bioquímico do cérebro. Numa segunda fase, pode se recorrer a um tipo de psicoterapia específica, denominado terapia cognitiva. O objetivo, nesses casos, é ajudar o paciente a enfrentar os seus próprios limites e adversidades.

O corpo fala

Os sintomas físicos de uma crise de pânico aparecem subitamente, sem nenhuma causa aparente, preparando o corpo para alguma coisa "preocupante".

>> Contração muscular

>> Palpitações

>> Tonturas e náuseas

>> Boca seca

>> Calafrios ou ondas de calor

>> Realidade distorcida

>> Terror

>> Confusão mental

>> Vertigens

>> Medo de morrer



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